Durante a gravidez ou perda gestacional é preciso cuidar dos homens.
No nascimento de um filho, os protagonistas costumam ser o binômio mamãe e bebê. Habitualmente, o pai, personagem tão importante quanto os demais, tem menos atenção.
É comum na rede de serviços saúde perinatais não se dedicar atenção aos homens que acompanham o processo gestacional. Em consultas ou exames de rotina, a atenção está sempre na mãe e no bebê. Os pais ou companheiros, quase nunca são questionados sobre como estão se sentindo. Quando o processo gravidez transcorre sem problemas isso parece irrelevante, mas não é. E, quando, no transcurso da gravidez, intercorrências acontecem?
Como médica ginecologista e obstetra foram muitas as situações que vivenciei, vendo a dor dos desses homens ignorada. Quando tudo corre bem, as celebrações mãe e bebê são as estrelas. Mas quando situações delicadas acontecem, a invisibilização da figura masculina se acentua.
De situações rotineiras às mais delicadas, tenho muitas estórias gravadas em minha memória. Lembro-me de casos extremos, de perdas, de abortamentos, em que vi nos olhos masculinos o mais doloroso abandono. Saindo da sala de cirurgia, o que comumente se vê é a preocupação legítima de todos – amigos, familiares e do próprio companheiro – com as mães, que perdem seu filho.
Mas e a dor desses homens que também estão tendo uma perda? O que lhes é permitido expressar? Eles podem, pelo menos, chorar copiosamente? Falar em autocuidado para eles é inimaginável.
Ao longo dos anos, vi homens escondidos pelos cantos de hospitais, enxugando as lágrimas que se furtavam a sair. Esperavam por alguém que lhes abrisse o espaço de escuta para que pudessem manifestar a dor e a tristeza da perda de seu filho. Eles também se enlutam.
Dar colo e cuidar
Dores não escolhem pai ou mãe em um processo de perda. Chegam sangrando em quem tem coração.
É preciso ter a atenção e o cuidado voltados para todos aqueles que estão envolvidos em situações de sofrimento emocional agudo. Assim como as mães, os pais também podem sofrer de depressão pós-parto, “ficar em frangalhos”, mesmo demonstrando ser “uma pedra de gelo”.
Como profissionais de saúde, médicos, enfermeiros, técnicos podemos desenvolver um olhar mais atento e uma escuta compassiva para as mães, sem nos esquecer desses pais, treinados para não demonstrar sentimentos. E assim, ser o colo que acolhe.
Ao acolher essas famílias, devemos estar atentos para as nossas dores porque somos impactados emocionalmente em cada situação vivida também. O autocuidado é essencial. Buscar um colo que nos acolha é um ótimo caminho.
Andrea Nancy Pontes Gomes
Aquela que dá colo
Médica ginecologista e obstetra. Homeopata. Doula da morte.
Formação de Doula com AmorTser. Mortal.
Veja como você pode usar a música como ferramenta de autocuidado.
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